terça-feira, 8 de maio de 2007

Saciai-vos bacantes da merenda


À Papoila mais linda do Ramalhete Rubro

Apetecível papoila:


De tarde

Naquele “pic-nic” de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.



Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.



Pouco depois, em cima de uns penhascos,

Nós acampamos, inda o sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão-de-ló molhado em malvasia.



Mas, todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda,

O ramalhete rubro de papoulas


Cesário Verde


o lugar mais erótico de um corpo não é a parte em que o vestuário se entreabre?

.questionou Roland Barthes in O prazer do texto.



Eis que se revela então o supremo encanto da merenda

2 comentários:

Anónimo disse...

uma papoila só para mim?!
o momento inexplicável de há pouco diz tudo Lara. há coisas que tinham de ser:)
sim, e uma papoila para mim tinha de ser.
adoro papoilas. mas elas não gostam de mim... se as apanho teimam em murchar...
são bem mais lindas no campo, mas que fazer a este desejo egoísta de as poder apreciar naquele vaso ao lado da cama?
o vermelho da papoila é inigualável. (o que escolheste está lá perto...)
quero um vestido cor de papoila! (isto dito assim até dá vontade de rir... mas não tanto como quando ouço o Pedro Barroso a cantar este poema e me lembro daquela aula em que a professora de português a trouxe para ouvirmos e cantarmos e ninguém conseguia parar de rir!)
por acaso é esse cd que agora anda no auto-rádio:) impossível não sorrir quando ouço... lembro-me sempre disso!
disso e da tela de monet.
e tenho vontade de ir apanhar papoilas.
a partir de agora vou lembrar-me também que a Lara gosta muito de papoilas.
quando vir um campo de papoilas vou lembrar-me da Lara.
e hei-de lembrar-me de lhe colher umas quantas.

Anónimo disse...

(ainda não consegui deixar de trautear a canção...)

não pude deixar de reparar na clarividência da pergunta de Barthes. e na evidência da resposta.
todos os lugares do corpo humano são eróticos. a roupa entreabre-se no pulso, no cotovelo, no antebraço, nas pernas, nos tornozelos, além daqueloutros "lugares" em que se pensou primeiro. pelo menos eu pensei - confesso.

(O RAMALHETE RUBRO DAS PAPOULAS!!! O RAMALHETE RUBRO DAS PAPOULAS... - o resto... à vous de découvrir...)

mas que tem a papoila que ver com erotismo? tudo, tens razão! (o poeta também não foi ingénuo na escolha)
sensual mas inocente, a papoila é extremamente delicada e feminina.
a flor do principezinho - qual rosa qual quê?! - era decerto UMA PAPOILA!