sexta-feira, 31 de agosto de 2007

...mais estórias do Paulo Kellerman

mmmmmmmmmmmmmmmm



Febre(2), 1994/1995
.Julião Sarmento.


esboço#6

Estava um pouco assustada, quase apreensiva; havia, também, uma ponta de remorso, a consciência a incomodar. Mas quando, finalmente, entrou no elevador do hotel, sentiu, mais que tudo, excitação.
No quarto, deixou que o seu amante a despisse lentamente, embalado pelo entusiasmo da descoberta de um novo corpo. Depois, fizeram sexo demoradamente, concretizando semanas de fantasias.
Quando terminaram, ele caminha pelo quarto; liga a televisão; pega no telemóvel e fala com alguém do banco. E ela, decepcionada, pensa: se quisesse apenas foder, ficava em casa. Depois, di-lo.



esboço#7

Havia uma actriz que todos elogiavam pela excelência dos seus desempenhos; mas ela estranhava: porque o que louvavam era, afinal, a sua capacidade de fingir, mentir, iludir: de não ser ela própria.
Sim, percebera há muito que a sua vida era um extenso catálogo de fingimentos: para cada circunstância escolhia a personagem adequada e encarnava-a. Actriz a tempo inteiro, na verdade.
Até que, certo dia, apaixonou-se. E disse-lhe: amo-te tanto. Ele encolheu os ombros, indiferente: como poderia adivinhar que ela efectivamente (e talvez pela primeira vez) sentia o que dizia?


esboço#11

Penumbra e silêncio, o mundo tão distante, indiferente: e uma nova mulher no seu quarto. Estendia a mão, devagar, e tocava: sentindo na ponta dos seus dedos a pele dela.
Depois, despia-a. Devagar, peça a peça; estudava cada pormenor do corpo, com ansiedade e deleite: como se fosse o primeira mulher que via nua perante si. Por vezes acariciava-a, com timidez, quase com reverência; ou aproximava o rosto e observava, atento. Beijava, também: a coxa, o mamilo, o umbigo; mas sem sofreguidão nem impaciência.
Mas quando conhecia detalhadamente o corpo nu e a volúpia da revelação se dissipava, afastava-se delicadamente. Para ele, bastava. O prazer estava, todo, na descoberta de um novo corpo; fodê-lo aborrecê-lo-ia imenso.
.estas e outras estórias na gaveta de sempre.




Prece

mmmmmmmmmm


mmmmmmmmmmm

.©2006 aline andrei.


vãos rasgados, abertos, fendidos, unidos. suplicam-se: vãos.
gelosias, rótulas, óculos, empenas vazadas, frestas, rosáceas, flamejantes. suplicam-se: flamejantes.
janelas de dois lumes, três lumes ou geminadas, janelões, janelos, janelas, guarnecidas, estilizadas, talhadas, elaboradas, despidas, nuas. rogam-se: nuas.
platibandas rendilhadas, transparentes, transponíveis, disponíveis. rogam-se: disponíveis.
gradeamentos de ferro, forjado, fundido, de ferro fundido, de ardor cravejado, desmaterializado. como a ponte d. luiz. descarnado.
teias e cancelas sagradas. varandas, varadins, vãos de sacada, balaustrada, varanda alpendrada. sulcada.
suplicam-se que os vãos sejam rasgados, abertos e escancarados por forma a dilacerar o alcance de uma vista enquadrada. cega. escamoteada. censurada. por molduras, batentes, portadas, mainéis e lintéis.
já os vãos das portas querem-se entreabertos. suplicam-se: portas entreabertas. para sentir a textura do botão que sofregamente se desabotoa. para sentir o dedilhar das linhas. do risco. que gizou essas portas.
...p.a.u.l.a.t.i.n.a.m.e.n.t.e. vai-se sucumbindo ao doce canto, não da sereia nem da cotovia, mas ao do
beija-flor.


Quem dera a Foucault ter descoberto o universo que se esconde atrás da tua porta quando definia a heterotopia.
beijo os teus pés sagrados. é esse o meu lugar.


quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Amanhã, no Maxime:

mmmmmmmmmm

.Ursoluso.


Para quem ainda não teve oportunidade de ver e ouvir esta banda, poderá fazê-lo amanhã no Cabaret Maxime.




[é para estas ocasiões que gostaria de ter o poder da ubiquidade...]



mata-borrão



.Jj.


tais-toi.

Le nuage interdit



.Jj.


mmmmmmmmmm

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Lets get out of this country

nnnnnnnnnnnnnnnnnnnnnn
.Camera Obscura.






_______rewind
______________forward
______________________play
____________________________stop.





________________________________________Tears for Affairs


...i can't see further than my own nose at the moment.so i cry.i cry. i cry.i cry.i cry.i cry. i cry. 'cause i can't see further...





Carta de amor sem grandes regras de ortografia


E eu que não gosto de escrever, e que nunca escrevi cartas de amor, e não é por achá-las ridículas, não me venhas com o teu Fernando para cima da minha pessoa, e olha bem o estado a que eu cheguei, a tentar fazer trocadilhos com coisas que pouca piada têm, e talvez acabe já esta frase, antes que a frase acabe comigo, e vê bem o estado em que eu fico quando escrevo sobre ti, ou sobre mim, ou para ti, e já pareço aqueles escritores de que tanto gostas, analfabetos de primeira apanha, que nunca escrevem «de primeira apanha» por serem gente tão culta, e tão brilhante, e tão diferente, e gente que muito escreve, e escreve sempre tanto, que vírgulas e pontos finais é coisa que não lhes interessa.
Vai à merda. Desculpa, estou a ser brusco de mais, ou talvez de menos, e eu só quero acertar — como se costuma dizer — em cheio, bem em cheio na boa merda que tu és. Desculpa outra vez, estou a ser demasiado directo, ou sincero, e tu sempre gostaste de mim mais calmo, ou meigo, ou brando, ou qualquer coisa que assim fosse, nesse meio termo entre o homem e o veludo, e quase me metias num robe e num par de chinelos, a fazer chás de camomila e a prometer-te as Venezas todas deste mundo. Então eu digo, agora digo, tudo aquilo que queria escrever desde o início, não da carta, nada disso, a carta comecei-a agora mesmo, mas desde sempre, que é desde que te foste embora: ainda não sinto a tua falta. É estranho porque continuo a acordar contigo, e não é bem acordar porque pouco durmo, ou quase nada, é mais sentir que ainda aqui estás, que ainda aqui estás exactamente por já não estares, não sei se compreendes, se calhar preferias uma prosa mais arranjadinha, mais poética, talvez mais poética, tu sempre amaste os maricas dos poetas, aqueles que amam e tremem com a caneta e muito pouco com a alma que se gasta e se arruina. Mas digo apenas o que digo. E digo: ainda não sinto a tua falta. Custa entrar nos sítios onde te vi e custa ainda mais ver-te nos sítios onde agora entro, mas sem ti, e tu sempre com outros, que não eu. Não são ciúmes, ou talvez sejam, eu sei lá, talvez tu possas dizer, tu que sabes tudo, e de tudo, e de todos, mas não gosto de te ver onde me vejo também a mim. Só por isso te envio uma lista onde escrevi os hábitos das minhas semanas, e agradecia — até peço por favor — que não estivesses lá quando eu estivesse. Respeitei as sextas e os sábados, porque sei onde tomas café, onde bebes muito, e talvez jantes, não me importa com quem, ou talvez me importe, mas não vale de muito explicar esse muito que me importa, e para mim só deixei os dias da semana, de segunda a quinta, e os horários, e os sítios onde gosto de ir, e espero que aos mesmos não vás, e se quiseres muito ir, vai só depois de eu ter saído, ou antes de eu ter entrado, ou então avisa, eu sei lá. E só de pensar o quanto ainda gostava de estar contigo — Deus me perdoe: diz lá o que é que eu merecia por ser tão estúpido? Precisamente, e o que estás a pensar ainda é pouco: multiplica por dez e acrescenta-lhe outro tanto, e ainda é pouco. Merecia pior, ou melhor, depende do que pensares, e eu, como penso bem as coisas más que tu pensas sobre mim, digo pior, muito pior, e talvez acerte, e acerto mesmo. As saudades aguento-as bem, são coisa pequena e muito minha, tu sabes como é, ou como são, sempre me soube arruinar sem companhia, e sou um homem como os homens devem ser, e não choro por dá cá aquela palha, apesar de não saber por que razão dizemos «dá cá aquela palha». Não preciso que sintas pena, eu é que devia sentir pena de dizer que não sinto a tua falta, mas a falta que tu me fazes. Não é a mesma coisa, tu julgas que é, mas não é: e se fosse, seria alguma tragédia? Não há nada que relembre em ti que ame, que aprecie — quero dizer, mais do que apreciava outrora. Pois bem, a cor dos olhos, querias que eu dissesse alguma coisa sobre eles, não querias? Mas são banais, vulgares, e tão bonitos que eles eram — mas só quando eram meus, minha linda. E os lugares onde estivémos, que eram nossos por neles estarmos e não noutros, são agora vazios, porque sempre cheios de gente, gente que não interessa, por nunca ter interessado tão pouco como agora. E as frases que tu dizias, e eu ficava a pensar que talvez tivesses razão, uma razão muito tua, mas uma razão como outra razão qualquer, e pensava na beleza das palavras que dizias, por não serem minhas, e por sempre ter amado tudo aquilo que é meu e não me pertence. Amo-te como não posso, e a distância é pior do que os amantes que se amam à distância. Talvez sintas alguma coisa, quem sabe uma pontada nas costas, minha jóia, meu amor, minha linda, minha rica, e ainda te ris das coisas que eu escrevo? Devias ter vergonha, não muita, apenas a suficiente para nunca te rires dos teus e dos meus risos, especialmente dos meus, aqueles que um dia me viste rir só para ti. É noite e já pouco digo que valha a pena escutar, ou ler, ou mesmo rasgar. Ainda não sinto a tua falta, juro-te pela minha rica saudinha — e que um camião TIR me leve pela estrada e me ensine a voar pela noite fora. Mas sei que irei sentir. A falta que ainda não sinto é pior do que a falta que chegará por um destes dias. É coisa estranha e melancólica, que se apossessa do corpo numa sinfonia em crescendo — e tu desculpa lá esta última frase, que a copiei sem vergonha de um livro muito mau que tu me deste. Hei-de sentir a tua falta. E antes que ela bata à porta como batem todas as faltas, num choro tão feio e tão chorado a despropósito, espero que tu batas primeiro. E não direi para ser tudo como dantes, mas melhor, ou pior — sim, pior, pior para mim, porque eu até nem me importo de usar robe, e chinelos. E se isso te fizer feliz, muito feliz, mesmo feliz, nadaremos também como peixes numa chávena de chá, assim que a água dos canais nos inunde o quarto a camomila.


João Pereira Coutinho
in revista365.


..

domingo, 26 de agosto de 2007

Passagens...

mmmmmmmmmm- larga o jornal, vamos conversar, namorar... há tanto tempo que não o fazemos ...
- pára... está quieta... chata! ... deixa-me ler as notícias de hoje...
- eu já as li. deixa-me sentar no teu colo, aninhar-me no teu regaço... se quiseres sussurro-tas ao ouvido...
- deixa-me! pesas!
- peso? eu peso? estás a chamar-me de gorda? estou gorda?!!! eu peso muito? ah...! eu peso-te? sou um fardo para ti, é isso que me queres dizer...?
-lá 'tás tu, com as tuas coisas, eu não disse isso!
- hum, pensei...

duas horas e meia depois...

- amor, vou preparar o nosso jantar. comprei o seitan biológico que tanto gostas para fazer o rotti indiano!
- não me apetece. aliás, hoje, estou sem apetite.
- se quiseres vamos à pizza hut comer a lasagna vegetariana afogada em manteiga de alho, gostas tanto, vamos? queres ir?
- não. vou só terminar de ler isto e depois vou encontrar-me com o bernardo e com o pessoal lá do escritório.
- assim sendo... é melhor ligar, então, à telepizza para ser mais rápido... pronto, é escusado fazeres essa cara... está bem... então vou só tomar um duchezito rápido, antes de saíres, amor.

...

-ana! oh ana! estás a ouvir-me? até logo! vou ter com a malta! não esperes por mim, não tenho hora para chegar! convida a mariana e a carolina para virem ter contigo. beijinhos 'more. não te esqueças de levar o spínola à rua!

...

- 2****3769 ... ... ... ... - está sim...? carolina...?! é hoje. reservaste-me as passagens?
- tens a certeza... já te decidiste...?
- nunca estive tão certa!
- reservei-te apenas de ida!
- perfeito! é mesmo só de ida. sem volta.
- é hoje.
- como te sentes?
-vazia. decidida. de partida.


sábado, 25 de agosto de 2007

Obrigada, Professor...

hhhhhhhhhhhhhhhhh
mmmmmmmmmmmmmm


sexta-feira, 24 de agosto de 2007

História trágica com final feliz


.Regina Pessoa.


Foi lindo e rápido





Lourenço Ventura, assim se chamava. O melhor amigo de qualquer um. Tipo porreiro, melhor dizendo, um tipo formidável.


"(... ) Ora um dia, entre as comadres do costume, o Lourenço fisgou uma gaiata que, se não tinha vindo do jardim do Éden, d’onde caraças a gaiata tinha vindo? Uns olhões grandes como azeitonas de estufa, ai, sanhor, a rapariga fazia doer nas vistas, as orelhitas brancas, brancas a espreitarem das madeixas do cabelo preto, preto, duas meloas verdes sob o vestido no lugar das mamas, nosso senhor me perdoe, se pudesse, o Lourenço derrubava-a ali mesmo, os dias todos somados a conduzir aquela carreira, à chuva e ao sol, as comadres achavam-lhe graça sim senhor, e ao fim-do-mês não lhe faltava dinheiro para comer-beber-vestir-e-calçar, mas, vá-lá-ver, que vida era aquela, sem uma manita de mulher para lhe apalpar o coração?
Nesse dia, o Lourenço até se esqueceu do farnel que trazia na marmita para o almoço. Estacionou o carro debaixo d’uma sombra e ali ficou derreado a pensar na gaiata. Ao outro dia, quando passou no lugar onde a rapariga tinha subido, o coração batia-lhe debaixo da língua. As comadres nem toparam a ausência do sorriso bacano. A rapariga não aparecera, gaita, pensou, bem vistas as coisas, não era agora, do pé para a mão, que aquela deusa desconhecida havia de entrar no autocarro e lembrar-se de lhe pregar um beijão dialético, qual quê?O Lourenço tinha um sorriso bacano mas o D. Ruan era espanhol e consta que o Tirso de Molina era tamanho petas que, em muchacho, nem a madrezita lhe confiava o biberon. Mas, não interessa, não é relevante saber se nessa altura já havia ou deixava de haver biberons, o que agora ocupa o Lourenço é descobrir a forma mais eficaz de entabular conversa sem parecer otário. Está novamente derreado numa sombra com a cabeça a bulir ..."


estória de Paulo Campos Pereira _______________________________________________o grande final: aqui:




quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Sintoniza

mmmmmmmmmmmmmmm


hot lips
.pacific!.





tan.tan.tan.ranran.laralá.lá.lá.
paran.ran.na.ran.rammmmm.
tan.tan.tammm.m.m.m.m.m
.sintoniza outras ondas aqui.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Sublime#2

"Em comparação com o belo, o sublime consiste num estágio de estupefação e de horror até o grau mais alto em que a razão não pode alcançar. De outro modo o sublime não possui formas, mas desperta no fundo sentimento inexplicável pela mente. O belo é aquilo que agrada e é finito, está nos limites da razão humana, enquanto que o sublime pode ser encarado com o terrível ou até mesmo um espanto ao contemplar algo tão belíssimo, é um choque para a razão a graça de tamanho efeito inebriante. Segundo Lebrun, o sublime consiste numa imaginação sem imagens e Kant diz que “a noite é sublime, o dia belo”. O sublime para Kant é a desarmonia em relação as faculdades, pois o sublime assombra, é terrificante e de uma beleza magnífica e absolutamente grande. O sublime surge de uma tensão entre imaginação e razão gerando uma relação conflituosa da imaginação com a razão. Ora, a imaginação por si só acaba no nada, fica infurnada um abismo onde poderia perder-se, o impensável, o horror e fazendo com que a razão violente a imaginação, pois a mesma não consegue medir o que é o sublime. A mais profunda solidão é sublime, mas consiste nada mais no que é terrível, inibindo a dor e fazendo o sujeito almejar um êxtase perante algo tão maravilhoso, independente de forma e cor, mas é uma contemplação não racional, inexplicável e quase delirante, fazendo com que os sentidos paralisem e permitindo um grau de elevação que não está em conformidade com este mundo".

Guilherme Paixão Campelo

Sublime


Ohne Titel, 1994
.Michael Biberstein.




Ohne Titel, 2003
.Michael Biberstein.



Blue Wonder, 2006
.Michael Biberstein.




«PAINTINGSARESEEINGMACHINESTHATMANHASBUILTFORHISOWNEDIFICATION.THEYARETHERESULTOFAPHYSIOLOGICALPROCESS,THATINTURNSATISFIESOTHERPHYSIOLOGICALNEEDS...»

M.B., Frame N°16, 2006, p.135



[lê-se Goethe,
vê-se Biberstein
pressente-se o romantismo extemporâneo.
o sentimento estético do sublime]

Paisagens subterrâneas do ser humano

©Trickie on the cot, NYC,1979


©Fatima Candles, Portugal, 1998

©Heart-shaped bruise, NYC, 1980

©Nan one month after being battered, NYC, 1984


© Piotr aking his AIDS Medication, NYC, 1996


Nan Goldin, Fotógrafa

Nan Goldin aponta
a lente para
o que fere o olho:

a luz
insólita dos decaídos
os anjos neuróticos
da sarjeta

No próximo flash
o auto-retrato entre dentes
(como quem cospe
uma golfada de sangue)


Carlos Machado



ver também os consagrados Larry Clark; Craig Cowling;Francesca Woodman; Cindy Sherman, entre outros...

e Diogo Sarmento (recentemente descoberto aqui)...

Pátina













houve um sobressalto na memória
conjugado no pretérito perfeito de um tempo apolíneo,
porém, escrito a aguarelas dissolúveis








.aguarelas de fernanda fragateiro.

Poesia Experimental











_________1966