Habituei-me a ver-te todos os dias, no autocarro do costume. Entravas duas paragens depois de mim e avançavas em busca de um lugar disponível, indiferente a quem te olhasse, a quem te ignorasse; sentavas-te, olhavas pela janela: e desaparecias. Deixando-me livre para te observar, para te estudar, para te descobrir; e depois, mais tarde, naturalmente, para te imaginar, para te fantasiar, para te desejar.
Até que um dia deixaste de vir. Agora, habituei-me a não te ver todos os dias, no autocarro do costume; mas continuo a imaginar-te, a fantasiar-te, a desejar-te. Na verdade, a tua ausência libertou-me: tornou-se mais fácil apropriar-me de ti agora que não passas de uma memória, de um pretexto.
A tua ausência tornou-te mais real, mais autêntica. Percebes isto?
Até que um dia deixaste de vir. Agora, habituei-me a não te ver todos os dias, no autocarro do costume; mas continuo a imaginar-te, a fantasiar-te, a desejar-te. Na verdade, a tua ausência libertou-me: tornou-se mais fácil apropriar-me de ti agora que não passas de uma memória, de um pretexto.
A tua ausência tornou-te mais real, mais autêntica. Percebes isto?
Paulo Kellerman
abre a gaveta e espreita
3 comentários:
Isto tem qualquer coisa de auto-biográfico...
A ausência pode libertar, mas custa habituarmo-nos a ela. Tenho tentado acostumar-me à ausência de quem ainda está perto. Em vão. Não consigo libertar-me... E olha que se me libertasse queria que fosse por completo. Pôr fim à imaginação, à fantasia e ao desejo que me prendem.
Afinal, de que serve a liberdade para não me sentir livre?
Não é se. É quando.
quando, quando, quando - que tortuosa palavra...
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