As duas linhas dos carrinhos: cor-de-rosa e cinzenta
Nos dois carrinhos de linhas viajaram um vestido de linho imaculado, com borbado inglês cor-de-rosa bebé, e um par de sapatos de verniz preto.
O desejo de revisitar as memórias dessa viagem era de tal modo intenso que galguei as escadas do sótão sofregamente para abrir o baú de infância. Resgatei o vestido outrora perdido no tempo. Contemplei-o. Decidi passá-lo, caseá-lo, e reforcei os botões antigos.
No fundo do baú encontrei os sapatos de verniz. Experimentei-os. Estão apertados. Neles alinhavo pespontos a cinzento-rato. Cor de cinza cinzenta da cor da borralha queimada e do burro quando me foge.
A cor negra destes sapatos nunca me enganou: sempre que os calçava e caminhava... o burro fugia-me... e eu nunca ia longe...
Vou deitá-los fora porque já não me servem. Aproveito e livro-me do agoiro negro do verniz e das cinzas.
Só o vestido com o debroado rosa ainda me serve, mas está démodé... Já sei! Vou remover os botões e casá-los noutros vestidos, eles são tão bonitos!
Sonhar os Sonhos de Cristina Tavares. Sonhar os Sonhos de Cristina Tavares.
Mas cansei-me... Desabotoei-me, despi-me dos velhos trapos e larguei de vez os sapatos de verniz. negros!
Comprei botas de salto alto estilo Luis XIV e rumei em direcção aos meus sonhos como fez o Rei Sol! Fi-lo com um sorriso ávido por conjugar o caminho do futuro!
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