quinta-feira, 10 de maio de 2007

Inércia #1

Bleu, 2002

João Tabarra




Partida, largada, fugida.

O tempo tem as pernas mais longas do que as minhas.
Corre mais depressa do que eu. Finta-me, passa-me a perna e prega-me rasteiras. E Caio.
Quando me levanto, já sem forças, ergo os meus olhos em direcção à meta, que fica
longe, tão distante... e constato a enormidade de voltas que ainda faltam ser percorridas.
Brrrrrrriiiiimm!
Esgotou-se o tempo! Foi ele o vencedor da partida.
Nem tempo tive de desafiá-lo na corrida, nem de cortar a meta tão pouco...

Fugiu-me


...

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração
...

António Ramos Rosa



Ouço The clock de Thom Yorke

clica
aqui se quiseres ouvir a música e matar o tempo

1 comentário:

Anónimo disse...

o TEMPO à secretária...

ai ai... (suspiro ao cabo de mais um dia útil inútil. gasto.)

"Tudo o que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito.
Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica
Ao olhar para o que faço!
Minha alma é lúdica e rica,
E eu sou um mar de sargaço ---

Um mar onde bóiam lentos
Fragmentos de um mar de além...
Vontades ou pensamentos?
Não o sei e sei-o bem."

Fernando Pessoa, 13-9-1933

às vezes é isto que sinto.
um pouco como o Ega.
uma vida de projectos. uma agenda repleta. e tudo inacabado.
ai a dor de ser "quase" Lara...
a esta dor está directa e necessariamente ligado o culpado do tempo.
e também, claro está, a nossa inércia. a preguiça.
algures vi (li) alguém fazer um elogio à preguiça. pode lá ser?!
eu odeio a preguiça!!! (p'ra trás!!!) precisamente porque, de quando em vez, a parva (mesmo parua), faz questão de me atormentar.
e então lá fica qualquer coisa na metade... fica também - e isso é o que dilacera - a dor da fraqueza de quem se deixou sucumbir à sua força.
a dor de falhar.

que dói muito mais quando não se tentou.