segunda-feira, 9 de abril de 2007

Autopsicoagonia - a dor de ser "quase"


.Quero dormir. Sonhar. E ser sonho. Simplesmente. Ser. Eu. .Absoluta.



.Quase.

Um pouco mais de sol eu era brasa.
Um pouco mais de azul
- eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...


Assombro ou paz? Em vão...
Tudo esvaído

Num baixo mar enganador d'espuma;

E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho
ó dor! quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim
- quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
Ai a dor de ser-quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol
vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

...........................................
...........................................

Um pouco mais de sol - e
fora brasa,
Um pouco mais de azul
- e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...


De
Mário de Sá-Carneiro. Paris, 13 de Maio de 1913




Écoutez-moi Amélie, je veux avoir ton sourire. Il est parfait!Je veux être jolie, grande et amie comme vous. Donnez-moi une leçon. Je veux appendre...
MÚSICA QUE OUÇO: One (
is the loneliest number that you'll ever do...)de Aimee Mann

3 comentários:

Anónimo disse...

Ao contrário do que diz o poeta não devemos permanecer aquem. Não podemos deixar de sonhar. E de tentar concretizar os sonhos. Se falharmos, alguma coisa se haverá de retirar da experiência. Mesmo que apenas isso. Agarrar cada dia, cada momento que a vida nos dá não é fácil e nem sempre apetece. Às vezes cansa viver. Cansa viver intensamente. Então, quão bem sabe recolhermos ao silêncio (ou ao bulício) do nosso coração e aí ficarmos a torcer por que ninguém dê conta da nossa falta. E paramos o tempo só para nós. Para nos definirmos. Tantas vezes nos faz falta este tempo... ainda que sirva apenas para nos lamentarmos de, mais uma vez, termos sido "quase".

Anónimo disse...

Ainda é muito cedo pa estares a alucinar... tu és absolutamente absoluta! Condensas a perfeição em todos os sentidos - até irrita:)*. Se daqui a uns tempos não fores promovida a ministra da cultura, ainda te vemos atada a uma palmeira na tailândia, com uma t-shirt da greenpeace:)Beijos pa ti, muitos muitos***

Anónimo disse...

7

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

Mário de Sá-Carneiro