segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Prêt-à-Porter

kkkkkkkkkkkkkkkk
jjjjjjjkkk
.às vezes ando com a minha actriz-fétiche debaixo do braço.
.gosto de
levar à letra o sentido da "apropriação" .




«Em grandes épocas históricas altera-se, com a forma de existência colectiva da humanidade, o modo da sua percepção sensorial. O modo em que a percepção sensorial do homem se organiza - o medium em que ocorre - é condicionada não só naturalmente, como também historicamente. A época das grandes invasões, em que surgiram a indústria da arte do Baixo Império e a Génese de Viena, tinham não só uma arte diferente da da antiguidade como também uma outra percepção. Os eruditos da Escola de Viena, Riegel e Wickhoff, que se opuseram ao peso da tradição clássica, sob a qual aquela arte tinha estado enterrada, foram os primeiros a pensar em tirar dela conclusões relativamente à organização da percepção na época em que ela vigorava. Por mais amplo que fosse o seu conhecimento, tinham limites que consistiam no facto deste investigadores se contentarem com a característica formal, específica, da percepção na época do Baixo Império. Não tentaram mostrar - e talvez não pudessem esperar consegui-lo - as transformações que foram expressas nestas transformações da percepção. Actualmente as condições para tal entendimento são mais favoráveis. E, se pudermos entender como decadência da aura, as alterações no medium da percepção de que somos contemporâneos, também é possível mostrar as condições sociais dessa decadência.
É aconselhável ilustrar o conceito de aura, acima proposto para objectos históricos, com o conceito de aura para objectos naturais. Definimos esta última como manifestação única de uma lonjura, por muito próxima que esteja. Numa tarde de Verão descansando, seguir uma cordilheira no horizonte ou um ramo que lança a sombra sobre aquele que descansa - é isso a aura destes montes, a respiração deste ramo. Com base nesta descrição, é fácil admitir o condicionalismo social da actual decadência da aura. Essa decadência assenta em duas circunstâncias que estão ligadas ao significado crescente das massas, na vida actual. Ou seja: "Aproximar" as coisas espacial e humanamente é actualmente um desejo das massas tão apaixonado como a sua tendência para a superação do carácter único de qualquer realidade, através do registo da sua reprodução. Cada dia se torna mais imperiosa a necessidade de dominar o objecto fazendo-o mais próximo na imagem, ou melhor, na cópia, na reprodução. E a reprodução, tal como nos é fornecida por jornais ilustrados e semanais, diferencia-se inconfundivelmente do quadro. Neste, o carácter único e durabilidade estão intimamente ligados, como naqueles a fugacidade e a respectividade. Retirar o invólucro a um objecto, destroçar a sua aura, são características de uma percepção, cujo "sentido para o semelhante no mundo" se desenvolveu de forma tal que, através da reprodução também o capta no fenómeno único. Assim, manifesta-se no domínio do concreto o que no domínio da teoria se torna evidente, com o crescente significado da estatística. A orientação da realidade para as massas, e, destas para aquela, é um processo de amplitude ilimitada, tanto para o pensamento como para a intuição (...).
(...) Porque: as tarefas que são apresentadas ao aparelho da percepção humana, em épocas de mudança histórica, não podem ser resolvidas por meios apenas visuais, ou seja, da contemplação. Elas só são dominadas gradualmente, pelo hábito, após a aproximação da recepção táctil (...). A recepção na diversão, cada vez mais perceptível em todos os domínios arte, e que é sintoma das mais profundas alterações na percepção, tem no cinema o seu verdadeiro instrumento de exercício.»


Walter Benjamin
in "A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica", ensaio publicado em 1936

6 comentários:

Anónimo disse...

O paradigma da beleza, originalidade e criatividade, a mala com Audrey Hepburn é só um à parte:).

P.S. A perda da aura é uma expressão tão infeliz e redutora.

Anónimo disse...

Eheheheh!!! Já fui ver:P
Se não tivesse o trocadilho "consome-se com gosto" perdia uma boa parte da graça!
Não conheço ninguém que saiba brincar tão bem com as palavras como tu e olha que sei do que falo!
Existem mensagens que mereciam estar debaixo da língua!
Até já*
Beijos

Lara disse...

joão -... ai ai ai como é que vou explicar isto em poucas palavras...:) acho que no que toca a este assunto não estamos mesmo nada em sintonia. a perda da aura deve ser encarada positivamente visto que representa a "vitória" da democratização, laicização e secularização da arte face ao estigma /conotação religiosa da arte. Ou seja, a percepção estética da arte foi significativamente alterada pelo advento da rev. industrial ( ruptura quer na esfera social, quer na esfera política, das mentalidades, culturais, blá,blá, blá ..). Mercê dos avanços tecnológicos (como sejam os novos media - profanos - a fotografia, o comboio, imprensa, bicicleta etc.) alteram-se também os mecanismos da percepção, com efeito, assiste-se ao primado da perceção táctil, sensível e sensitiva (promovida sociedade de massas, liberal, laica, da máquina, do homem, do corpo, da matéria - ou seja, ditou o fim de uma sociedade impregnada por simbolismos transcendentes e eruditos, outrora, restrita pertença das elites). Por outras palavras, se, antes, a auréola dos santos, do divino/do sagrado, era o medium por execelência que ligava o homem ao céu/abstracto, e cuja contemplação era silenciosa, contemplativa, distante, e hermética digamos assim, com o adevento da técnica/ reprodutibilidade (olha a electricidade por ex.)essas refulgências luminosas caem por terra, à cidade/ao boulevard, literalmente, surgem novos media que ligam o homem ao homem, à terra e não ao céu. Tomemos como ex. a Torre Eiffel, enquanto ícone dessa laicização e dessa vontade do homem superar-se a si próprio através da técnica/engenho. a imprensa, os folhetins coloridos bem como a reprodutibilidade permitiu essa aproximação/apropriação da arte às massas, a cópia favoreceu o conhecimento da arte. agora não me digas que é mau poderes ter em casa uma "gioconda com bigodes" pregada na porta do frigorífico, um catálogo de uma exposição, ou uma carteira com a fotografia de uma actriz que aprecias? é essa a vitória da perda da aura, no sentido da "apropriação"/"do ter". vários autores referem que o suceso da fotografia deve-se essencialmente à apropriação de algo (ora confessa lá que não tens uma fotografia da Monica Bellucci:) e não tanto ao barbudo cliché do "captar o momento". A perda da aura conceito "redutor e infeliz"?? Não me parece.

minha anónima* - estás a dizer que o meu bloguesito do lado é pouco digno para alguns dos "posts" que lá constam?? :)
ainda bem que gostaste! andava à procura de um video-clip e fui surpreendida por esse belíssimo spot publicitário - há momentos de sorte!
não há quem não "consuma", as Levi's Strauss pois claro!;)

peço mil desculpas pela escrita sincopada, mas a esta hora não dá para mais...

Anónimo disse...

Gostei do discurso, mas não me convence. Mostraste-me apenas a face positiva da perda da aura. Então o que dizer sobre a escumalha que entope os museus só porque está na moda e fica bem?

Bjs

hiddentrack disse...

quem se mete em conversas com esta "miuda" aleija-se e aprende, muito!

eu digo: melhora as técnicas de recorte!:PPP

Lara disse...

lapsos -"se deve"; "percepção" e "sucesso"

joão: "escumalha" é um termo infeliz, feito até!, pelo que não tem lugar no meu dicionário. bem sei que, actualmente, os museus, e/ou outros vectores expositivos se converteram em palcos de entretenimento, espaços essencialmente comunicativos e de interacção em detrimento da informação... bem sei, bem sei... porém, "vive la libérté":)a liberdade de escolha pelo conhecimento, o direito de cada utente do museu optar!! que visão elitista e segmentária joão - "cruzes, credo, figas, canhoto, vá de retro":P
não me digas que o lugar dessa "escumalha", como denominaste, deve ser no shopping center ("calendoscópio de sensações" psicadélicas, virtuais, doentis, artificiais, plásticas, imediatas e efémeras)? concluímos esta converseta pessoalmente, será bem melhor... uff!

e. - ***
quanta inércia não é? está vergonhosa a fotografia, mas "deu-me cá uma trabalheira desgraçada". como se vê, a minha relação com os recortes não é lá muito famosa... falta-me paciência...:)

vires cá? isso nem se pergunta: be my guest!