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ACTO I
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ACTO I
CENA IV
ANGÉLIQUE, TOINETTE
ANGÉLIQUE - (Olhando-a languidamente, diz-lhe num ar confidencial.) Toinette!
TOINETTE- O quê?
ANGÉLIQUE- Olha para mim um bocadinho.
TOINETTE- Está bem, eu olho.
ANGÉLIQUE- Toinette.
TOINETTE- Bem, «Toinette» o quê?...
ANGÉLIQUE- Não adivinhas de que te quero falar?
TOINETTE- Duvido muito: do nosso jovem amante, porque é sobre ele que, desde há seis dias, versam as nossas conversas e vós não vos sentis bem se não falardes dele a toda a hora.
ANGÉLIQUE- Já que o sabes, porque não és então a primeira a falar e me poupas o embaraço de te lançar o assunto?
TOINETTE- Não me dais tempo e preocupai-vos tanto com isto que é difícil adiantarmo-nos.
ANGÉLIQUE- Confesso-te que não conseguiria impedir-me de te falar dele e que o meu coração aprecia calorosamente todos os momentos em que se abre contigo. Mas, diz-me, condenas, Toinette, os sentimentos que nutro por ele?
TOINETTE- Não tenho que o fazer.
ANGÉLIQUE- Estarei errada por me abandonar a estas doces inclinações?
TOINETTE- Não digo isso.
ANGÉLIQUE- E quererias tu que eu fosse insensível às ternas declarações desta paixão ardente que ele guarda por mim?
TOINETTE- Não queira Deus.
ANGÉLIQUE- Diz-me: não encontras, como eu, algo de celestial, um qualquer golpe do destino, na aventura inopinada do nosso encontro?
TOINETTE- Sim.
ANGÉLIQUE- Não achas que esta acção de tomar a minha defesa sem me conhecer é de facto de homem honesto?
TOINETTE- Sim.
ANGÉLIQUE- Que não se pode agir de forma mais generosa?
TOINETTE- De acordo.
ANGÉLIQUE- E que fez tudo isto na melhor vontade do mundo?
TOINETTE- Oh! Sim!
ANGÉLIQUE- Não achas, Toinette, que é bem constituído de sua pessoa?
TOINETTE- Seguramente.
ANGÉLIQUE- Que tem o melhor aspecto do mundo?
TOINETTE- Sem dúvida.
ANGÉLIQUE- Que as suas palavras, tal como as suas acções, têm qualquer coisa de nobre?
TOINETTE- Isso é certo.
ANGÉLIQUE- Que não se pode escutar nada de mais apaixonado do que tudo aquilo que ele me diz?
TOINETTE- É verdade.
ANGÉLIQUE- E que não há nada de mais triste que o constrangimento em que estou, que impede toda a troca de doces diligências deste mútuo ardor que o Céu nos inspira?
TOINETTE- Tendes razão.
ANGÉLIQUE- Mas, minha pobre Toinette, crês que ele me ame tanto quanto diz?
TOINETTE- Eh! Eh! Aí as coisas, por vezes, necessitam de confirmação. As máscaras do amor assemelham-se muito à verdade; e tenho visto para aí grandes comediantes.
ANGÉLIQUE- Ah! Toinette, que dizes? Ai de mim! Da maneira que me fala, será possível que não me diga a verdade?
TOINETTE- Em todo o caso, sereis dentro em pouco esclarecida; e a resolução de que ele vos escreveu ontem dizendo que estava para vos pedir em casamento é uma forma oportuna de vos fazer saber que ele vos fala a verdade ou não. Essa será a prova válida.
ANGÉLIQUE- Ah! Toinette, se este me engana, não quererei na minha vida mais nenhum homem.
TOINETTE- Eis o vosso pai que regressa.
...
[minha querida, se eu acreditasse na ilusória crendice do espiritismo, cujo fundamento se baseia na existência de vidas passadas, regressões e afins, diria que há seiscentos anos atrás Molière andou a perscrutar as nossas conversas e sucumbiu ao saborosíssimo delito do plágio. Ipsis verbis - sem dó, nem piedade!
Repito: Sim. De certo. Seguramente. Sem dúvida. Tendes razão amiga!]
Leitura da semana - "O Doente Imaginário" de Molière.
ANGÉLIQUE, TOINETTE
ANGÉLIQUE - (Olhando-a languidamente, diz-lhe num ar confidencial.) Toinette!
TOINETTE- O quê?
ANGÉLIQUE- Olha para mim um bocadinho.
TOINETTE- Está bem, eu olho.
ANGÉLIQUE- Toinette.
TOINETTE- Bem, «Toinette» o quê?...
ANGÉLIQUE- Não adivinhas de que te quero falar?
TOINETTE- Duvido muito: do nosso jovem amante, porque é sobre ele que, desde há seis dias, versam as nossas conversas e vós não vos sentis bem se não falardes dele a toda a hora.
ANGÉLIQUE- Já que o sabes, porque não és então a primeira a falar e me poupas o embaraço de te lançar o assunto?
TOINETTE- Não me dais tempo e preocupai-vos tanto com isto que é difícil adiantarmo-nos.
ANGÉLIQUE- Confesso-te que não conseguiria impedir-me de te falar dele e que o meu coração aprecia calorosamente todos os momentos em que se abre contigo. Mas, diz-me, condenas, Toinette, os sentimentos que nutro por ele?
TOINETTE- Não tenho que o fazer.
ANGÉLIQUE- Estarei errada por me abandonar a estas doces inclinações?
TOINETTE- Não digo isso.
ANGÉLIQUE- E quererias tu que eu fosse insensível às ternas declarações desta paixão ardente que ele guarda por mim?
TOINETTE- Não queira Deus.
ANGÉLIQUE- Diz-me: não encontras, como eu, algo de celestial, um qualquer golpe do destino, na aventura inopinada do nosso encontro?
TOINETTE- Sim.
ANGÉLIQUE- Não achas que esta acção de tomar a minha defesa sem me conhecer é de facto de homem honesto?
TOINETTE- Sim.
ANGÉLIQUE- Que não se pode agir de forma mais generosa?
TOINETTE- De acordo.
ANGÉLIQUE- E que fez tudo isto na melhor vontade do mundo?
TOINETTE- Oh! Sim!
ANGÉLIQUE- Não achas, Toinette, que é bem constituído de sua pessoa?
TOINETTE- Seguramente.
ANGÉLIQUE- Que tem o melhor aspecto do mundo?
TOINETTE- Sem dúvida.
ANGÉLIQUE- Que as suas palavras, tal como as suas acções, têm qualquer coisa de nobre?
TOINETTE- Isso é certo.
ANGÉLIQUE- Que não se pode escutar nada de mais apaixonado do que tudo aquilo que ele me diz?
TOINETTE- É verdade.
ANGÉLIQUE- E que não há nada de mais triste que o constrangimento em que estou, que impede toda a troca de doces diligências deste mútuo ardor que o Céu nos inspira?
TOINETTE- Tendes razão.
ANGÉLIQUE- Mas, minha pobre Toinette, crês que ele me ame tanto quanto diz?
TOINETTE- Eh! Eh! Aí as coisas, por vezes, necessitam de confirmação. As máscaras do amor assemelham-se muito à verdade; e tenho visto para aí grandes comediantes.
ANGÉLIQUE- Ah! Toinette, que dizes? Ai de mim! Da maneira que me fala, será possível que não me diga a verdade?
TOINETTE- Em todo o caso, sereis dentro em pouco esclarecida; e a resolução de que ele vos escreveu ontem dizendo que estava para vos pedir em casamento é uma forma oportuna de vos fazer saber que ele vos fala a verdade ou não. Essa será a prova válida.
ANGÉLIQUE- Ah! Toinette, se este me engana, não quererei na minha vida mais nenhum homem.
TOINETTE- Eis o vosso pai que regressa.
...
[minha querida, se eu acreditasse na ilusória crendice do espiritismo, cujo fundamento se baseia na existência de vidas passadas, regressões e afins, diria que há seiscentos anos atrás Molière andou a perscrutar as nossas conversas e sucumbiu ao saborosíssimo delito do plágio. Ipsis verbis - sem dó, nem piedade!
Repito: Sim. De certo. Seguramente. Sem dúvida. Tendes razão amiga!]
Leitura da semana - "O Doente Imaginário" de Molière.
2 comentários:
Sim, de facto...
Como nós, humanos, sentimos tantas as vezes o mesmo, mas não o sabemos exprimir como tu ou Molière!
Já tinha saudades. Um beijo para a minha (nossa) madrinha. [Não és também fada? Aproveitava e pedia-te um desejo...]
Madrinha de quem?
Mas que fada:)
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