quarta-feira, 25 de abril de 2007

Juste pour toi Emanuelle!


.Death and Life.
Gustav Klimt


"(...) A explicação de nós, do que fazemos e vivemos, é tão ridícula. No fim de contas apenas constatamos. Mas inventar o porquê, formular uma lei dá-nos a pequena ilusão de dominarmos o desconhecido. Não dominamos nada: conhecemos apenas a nossa fatalidade.
- A vida é estúpida, Ema, não tem «porquê». Os actos essenciais da vida realizamo-los com os olhos fechados: o prazer da boa música, ou da boa mesa, ou o prazer amoroso, ou a união com Deus. Até mesmo, se quiser, o próprio «descomer». Tudo o que é essencial é cego. Fechamos sempre os olhos. É por isso que no-los fecham quando morremos, se os deixamos abertos. (...)"

Vergílio Ferreira, in Alegria Breve


Dime lo que ves!! Dime lo que ves!...Dime. Eu vejo a Sagrada Família na margem da vida!Dime lo que ves!Dime!


No meio do caminho tenho medo


. Francesca Woodman.



.No meio do caminho.


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


Carlos Drummond de Andrade




minhas retinas tão fatigadas vivem presas aos ponteiros do relógio enquanto o corpo jaz tropeçado no medo. mas quando partes o vidro do silêncio estilhaças meu quebranto. e tudo passa, vai passando, vais chutando, vou brincando, vamos rebolando no meio do caminho como pedrinhas...mas, (que inoportuna palavra!), de novo, quando no meu quarto entro, e em cuja esquina me sento, assisto ensimesmada ao triste espectáculo de sombras que ainda ferem o tabuado corrido, quando meu corpo lá jazia inerte sobre o comprido....
Quando o quando constitui o vórtice do medo.

No autocarro do costume

.Rainy bus window.
hugovk



Habituei-me a ver-te todos os dias, no autocarro do costume. Entravas duas paragens depois de mim e avançavas em busca de um lugar disponível, indiferente a quem te olhasse, a quem te ignorasse; sentavas-te, olhavas pela janela: e desaparecias. Deixando-me livre para te observar, para te estudar, para te descobrir; e depois, mais tarde, naturalmente, para te imaginar, para te fantasiar, para te desejar.
Até que um dia deixaste de vir. Agora, habituei-me a não te ver todos os dias, no autocarro do costume; mas continuo a imaginar-te, a fantasiar-te, a desejar-te. Na verdade, a tua ausência libertou-me: tornou-se mais fácil apropriar-me de ti agora que não passas de uma memória, de um pretexto.
A tua ausência tornou-te mais real, mais autêntica. Percebes isto?

Paulo Kellerman

abre a gaveta e espreita

Transgredir.Sempre!


Fotografia de Alfredo Cunha



Quero ser sempre índio da meia-praia

Regue com abundância!

- Árvore -
Vieira da Silva

segunda-feira, 23 de abril de 2007

A Maçã



Este fruto, sim! Prefiro que seja doce. Docinho.
Mas que seja bem rijo. Rijinho, também. Para que me salpique quando lhe ferro os dentes na pele.
-"ckrunschhh"!-

Gosto da categoria "starking" - um king que é star cai sempre bem no palato!
Gosto da doçura, suculência, cor, e aparência.
A de Alcobaça, de preferência.
Há que saber valorizar a fruta nacional.
Porque o que é nacional, não é bom, é muito bom.
"Crunsh"! Vai uma dentada?
Que doce tentação, uma simples e inofensiva maçã!



Este post, bem como o anterior, foram feitos em três tempos, num momento de indigência extrema em que o estômago e o cérebro pediam açúcar e glicose para activar a circulação sanguínea. Não deu para mais!

A Laranja




A acidez da laranja causa aftas.
Ainda assim, prefiro degustar a sua dilacerante acidez.
Com caroços e tudo. Completa.
Que seja então servida com casca, fios e película branca que envolve a respectiva polpa.Vitaminada.
Detesto laranja doce. Docinha.
De casca fofa. Fofinha.
Que sai facilmente.
Não gosto.
Gosto da casca rija, difícil de sair. Para ser dificilmente descascada.
Docinha? Não, por favor!
Não gosto.

sábado, 21 de abril de 2007

Cubismo analítico




.retrato sobre políptico de sensações.


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Alberto Caeiro






Woman like a man


.Woman like a man. Damien Rice.



Mirror Mirror On the Wall, Who's the Fairest of Them All?

Sorry, I forgot to be polite.



sexta-feira, 20 de abril de 2007

A Sweet Taste of Paradise.



.CocoRosie. By your side.




Dans le purgatoire, je lui ai caché les yeux, ne me demandez pas pourquoi...



Recuperação por anastilose


.Apontamento.Margarida Pinto.



.Ipsis Verbis.


.Diz-me.

"A minha alma partiu-se como um vaso vazio".
"Caiu pela escada excessivamente abaixo".
"Caiu, e eu fiz-me em mais pedaços do que havia loiça no vaso".
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Caíu, partiu-se, caíu.

.E então?.

"O que era eu, o que era eu?"
Um vaso vazio.
"Asneira? Impossível? Sei lá!"

. E agora?.

"Alastra a escadaria atapetada de estrelas.
Ao fundo um caco brilha entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
E os deuses olham-na por não saber por que ficou ali".

.Não se zanguém com ela!.



Junto agora minhas tesselas arruinadas, uma a uma, por forma a criar o mosaico da minha vida. Pretendo que seja belo como os de Bizâncio, Tânger, Ceuta, ou de Mirtillo! Assim quero o meu, o meu mosaico! De colorido quente, brilhante e raro... ! Dar-lhe-ei o título das quatro estações,como os demais, para que seja eterno, também ...

Reanimo..................-me



.Re. reanimo-me. animo-me. ânimo. animo. animação. re. re. me. me. a mim. reanimar. Re.


Recolho pedaços de mim que outrora estavam dispersos.
Ordeno-os meticulosamente e coloco-os de forma sequencial no vazio.
Seguidamente, com um sopro de vida prostituído, encho os pulmões e faço-os rodopiar nesse vazio [ ]
e, mesmo convalescente, começo a sentir o pulsar do movimento.
Paulatinamente, o espaço vai ficando.
Já. Preenchido.

.assim já faz sentido.


umhh.fuuuh.ummhhhhhhh.fuuuh.reanimo-me. o corpo semi-inerte denuncia os primeiros sinais de vida.

sopro. balanço.
sopro.movimento-me. faço-me girar.rodopiar.dançar.insuflo. insuflo-me.

REDIMO-ME
. SORRIO.

ab initio.

já me sinto!

sexta-feira, 13 de abril de 2007

Epílogo epilogado.



- Always Look on the Bright Side of Life -

by
Monty Pyton


Pérolas de sabedoria proferidas por
Eduardo Gama, redator do Portal da Família e editor do site informativo Em Foco:

«Como uma pessoa consegue se libertar da tirania do “coitadinho de mim”?»

Eis a contundente resposta:

«“Se uma pessoa quer mudar profundamente, isto é, superar o seu infantilismo, tem de empreender um esforço contínuo da vontade. Às vezes, isto significa simplesmente o negar-se a tendências reconhecidas como criancices; outras vezes, implica fazer certas coisas que exigem uma boa dose de esforço e uma certa coragem. Como psicoterapeuta especializado em descobrir expressões de autocompaixão, treino muitas vezes os meus pacientes nalgumas técnicas de humor que neutralizam as variadas manifestações da emoção neurótica subjacente. Sorrir e rir-se das criancices do “coitadinho de mim!” pode ser um antídoto muito eficaz para controlar a virulência das lamúrias infantis. Em qualquer caso, o êxito deste
s tipos de técnicas, como o ‘hiper-dramatizar' a autocompaixão da criança interior, depende da vontade do paciente em as usar efetivamente no dia-a-dia.”

Aardweg sugere que exageremos uma situação que nos faz ter pena de nós mesmos ao ponto de dramatizá-la como se fosse um teatro do absurdo. Se temos de esperar na fila de um banco: “Que desgraça! Nunca mais vou poder ser o mesmo após essa tragédia. O tempo passa e eu aqui, envelhecendo, minhas pernas cada vez mais exaustas rumando para a morte”.

Por fim, é necessário pensar que a autocompaixão não acontece só com os outros, mas que cada um de nós tem um pouco de “peninha de si mesmo”».


Rir de mim mesma, e dos meus devaneios melodramáticos, é o melhor remédio... Tchau*


Epílogo...vazio.

estou cansada.
sinto-me estupidamente frustrada


de .SER.



.abolutamente nada.

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Tragédia ( à portuguesa)



.I ACTO.


Os glaciares que se derretem
As cunhas que se metem
O uso de aerosóis
Os jobs for the boys
O fosso entre a riqueza e a pobreza que aumenta
A iliteracia que não se lamenta...

Coro: Mas que importa tudo isto, quando se questiona o curriculum do Exm.º Senhor Primeiro Ministro*?

Os direitos humanos que são violados
Os deveres que são negligenciados
A prepotência do Senhor Bush e dos respectivos aliados
A iminente III Guerra Mundial
A utopia considerada como um mal
A ressurgência do fascismo com a Frente Nacional...

Coro: Mas que importa tudo isto, quando se questiona a validade da licenciatura do Exm.º Senhor Primeiro Ministro?

As novas investigações e os novos investigadores... quê?
O respeito ao próximo que não se vê
O preconceito, a apatia, a indiferença e a dormência
A slot machine que premeia a aparência...

Coro: Mas que importa tudo isto, quando vasculhar a vida do Exm.º Senhor Primeiro Ministro, é o que dá audiência?

Pathos: Santa paciência...



Photo: "I wonder" by Mukuk11


* de seu nome José Sócrates

invoco o silêncio de John Cage para calar o ruído desta incontinte verborreia dos media

Elementar, meu caro Descartes!




.Sinto, logo existo!*.




*António Damásio

Ela disse: "podes entrar sem pedir licença. A porta está aberta."

llllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll
.A Woman in the Sun - 1961.
Edward Hopper


"Orgia vocabular - I

Diria Camões à sua amada:

De vós senhora, é meu coração cativo
Em meu peito guardo vossa imagem serena.
Oh donzela de olhar distante e altivo
Meu coração por vós arde, meu corpo por vós pena.

Se um dia no meu leito vosso corpo reclinar
Quedar-me-ei admirando vossa forma e formosura.
Oh deuses! Cegue eu do outro olho se ousar profanar,
Vosso corpo, vosso encanto. Oh divina criatura!

Diria Bocage a uma ex-donzela:

Eu, Bocage não seria, se ao ver-te seminua
Não levantasse tua saia, tuas rendas e teus folhos
Não montasse e cavalgasse tuas ancas
A minha espada desembainhada, entesoada.

Eu, Bocage não seria, se ao ver-te deitada no leito
Pernas abertas a preceito, não te tirasse virgindade e honra
E se no final da peleja donzela fosses, eu, Bocage,
Arrancaria não um olho! Mas os tomates e a minha porra.

Florbela suspiraria pelo amado:

Ah vem…
Espero-te deitada só de suspirar fico cansada
Sem fôlego, trémula, sem alento.
Meu amor, vem…
Mas vem depressa
Ou quando chegares estarei dormindo a sesta
E terás perdido ao vir, ou não.
O meu desejo, o ensejo, o momento.

Ary declamaria arrebatado:

Meu amor. Meu amor.
Deitada não és certeza. És espanto.
Amar-te não é arder em fogo brando
Mas soltar corpo, grito, pensamento.
Arder em fogos brandos é para parvos
E burgueses de desejo fraco, coisa mole e verso breve.
Contigo meu cavalo solto até ao orgasmo.
E me arrebento no teu corpo
E me revejo no teu espasmo.

E Pessoa questionar-se-ia:

Penso que te amo. Mas será que te amo?
Vou fumar um cigarro na esplanada
E pensar mais um bocado.
Amo-te?
Ou como poeta sou, finjo amor e amando-te não te amo?
Não sei!
É melhor esperares deitada.
Digo-te lá mais para o fim da tarde.

Orgia vocabular II - Da criação. Do poeta

Ary pariria o poema:

Nasce nas veias o poema
Agiganta-se.
Filho no ventre
Sangue que corre
Poema volume
Convulsão.
Poema
Sémen palavra
Corpo êxtase
Loucura
Parto
Construção.

Florbela suspiraria o poema:

Ai… Esta inquietude, este desassossego
Que me faz pegar na pena.
Ai… Que penosos são os versos
E que penas, meu amor,
Penando te descrevo.
Ai… Assim penando permaneço
Na tristeza me aconchego
E no canapé, meu amor,
Quando a pena repouso
Desfaleço...

Pessoa questionaria o poema:

Se poesia é aquilo que sinto
Será poema aquilo que escrevo?
E o que esqueço
E se minto
E o que omito?
Se não fica tudo escrito
Será poesia o que sinto
Ou mera reflexão afinal?

Torga faria da Pátria poema:

Um poema nasce
Nos campos da minha Pátria.
Agreste é a paisagem
Forte o poema que cresce
Nos campos da minha Pátria.
Livre o poema ergue-se
E no céu sereno parte.
Fica a Pátria.

Orgia vocabular III - Do coito

Diria Camões à sua amada:

Oh divina e fermosa criatura! De vós o coito não quero... Mas o amor
E quedar-me assim a vossos pés prostrado
Admirando-vos e cantando-vos em estrofes e sonetos
Não maculando, senhora, vossa excelsa fermosura
Quer com pensamentos impuros... Quer com meus dedos.
De vós senhora, quero os ouvidos nada mais.

Diria Bocage entre folhos:

Se a mim, Bocage, deixasses vós
Tão escondida que estais entre pejos e saiotes
Espreitar vossa greta tão pequena.
Verias em meus calções a frente alçada
E meu porraz se agitando aos pinotes.

Sentirias entre as pernas tais calores
Que as escancarias expondo-vos a meus ardores
E me dirias a mim Elmano, vossa voz, não a minha, cavernosa
Vem Bocage, dá-me tua porra, teu porraz
Que em alvoroço estou... E aguentar-me mais não sou capaz.

Florbela suspiraria no canapé:

Ah … Do coito nada sei … Só da espera
Neste longo e lânguido entardecer
Em que te espero, meu amor, e te demoras
E eu aqui reclinada a fenecer…
Vieras tu, meu amor, à tardinha
Ficaras tu comigo, meu amor, a noite inteira
E do coito saberia escrever de manhãzinha
E ao coito dedicaria não um soneto mas uma ode inteira…

Ah…. Como espero que me deixes feita num oito…
Num coito….

Ary arrebatado:

Meu tesão inteiro e puro
Duro
Caneta
Sólido amor
Antes do coito
Antes do orgasmo
Que é esta tinta e este sémen
Com que
escrevo e te descrevo
Meu poema
Não castrado
Minha liberdade
Do coito
Do acto do espanto
Do espasmo.

Pessoa questionar-se-ia:


Penso que vi um coito

Daqui. Da minha esplanada
Por entre o fumo que me tolda os olhos
Por entre as duvidas que me embotam os sentidos
Mas naquela posição seria mesmo um coito?
E se era coito…
De que espécie seria?
Se ele estava de pé e ela ajoelhada?

Ah…. Como é triste o coito

Que o poeta só vê.

Orgia vocabular IV - Da penúria do poeta

Diria Camões sem cheta, com pena, à sua amada:

Minha pena tenho já no extremo fio
De tão gasta, Senhora, de tanto uso lhe dar.
Como arranjarei para vos escrever nova pena?
Se nem um cêntimo, Senhora, tenho para gastar.

E nem aos cisnes poderei roubar uma pena
Para vos mandar novas de mim, Senhora, ai de mim, coitado.
No reino grassa o temor de praga estranja
A gripe das aves traz a todos em cuidados.

Nestes tempos de tormentos e magras bolsas
Fechai bem, Senhora, de vossa casa o ferrolho.
Ah a desdita e a má fortuna que nos fazem assim andar
A vós descalça, Senhora... E a mim teso e sem um olho.

Diria Bocage fazendo um manguito:

Convidado Zacarias a sentar-se à farta mesa
Onde os poderosos e ricos jantavam.
Recusou pão, pinga e convite
Desconfiando, Zacarias, da esmola que lhe ofertavam.

- Oh Zacarias quem te julgas tu!
Perguntou um dos convivas, olhando-o zombeteiro.
- Um rico do pobre quer tudo, até o cu,
Respondeu Zacarias,
E o meu não se vende
Nem por pinga, nem por pão
Nem por nenhum dinheiro.

Florbela transpiraria no canapé:

Ah … Quando penso em ti meu amor...
Fica tão quente este meu pobre e triste corpo abandonado.
Ah… Não fora estar tão lisa como o meu Alentejo
E compraria um canapé com ar condicionado...

Esperar-te-ia, então, de bom grado meu amor
Desde o raiar do sol até à noitinha.
Ah meu amor… Tivera eu um ar condicionado
E a espera seria bem mais fresquinha.

Ary declamaria arrebatado:

Poeta que é poeta
É um esfomeado!
Um órfão
Um deserdado!
Árido, estéril
Se sem inspiração
Sem poesia.
Poeta que é poeta
É um operário!
Um teso, um pobre
Um libertário
Que constrói de mãos nuas
O poema itinerário,
O verso em que caminha.
Ao poeta que é poeta
Pode faltar tudo!
O vinho, o pão
E o conteúdo.
Mas que não lhe falte a musa
Pois morre o poeta
Que não come poesia.

Pessoa pensaria olhando o porta-moedas:

“Não sou nada.”
Não tenho nada
Nada quero senão meditar.
Mas davam-me jeito uns trocados
Que o dono aqui da esplanada
Já me disse quinze vezes:
- Queres fiado? Nem pensar!"

...

continua aqui


Ela diria
simples e incisivamente: "espero-te".



Será o bipolarismo doença cardíaca?


.Black & White. Black & White. Black & White.



Would you show me the rainbow?

Presunção



.In this moment, I'm singing.


My funny valentine
Sweet comic valentine...




Richard Rodgers. Lorenz Hart

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Tum-tum... tum-tum... tum-tum...


.De tanto bater meu coração parou.



p-a-r-o-u...p--a--r--o--u...p---a---r---o---u...p----a---r----o----u...p-----a----r....


O meu lado lunar


.Palavras de Mae West.
Quando eu sou boa, sou óptima. Mas quando sou má, sou muito melhor.


.Palavras de Joe Orton.
Acho que acredito no pecado original.As pessoas são profundamente más, mas infinitamente cómicas.


MÚSICA QUE OUÇO: Who the fuck, PJ Harvey (Uh Huh Her - 2004)


Auto-encenação

Untitled #230, 1990
Fotografia de Cindy Sherman


.Pessoa disse e eu repito.

Sou a cena viva onde passam vários actores representando várias peças
(Bernardo Soares)

.E Se....por.

... uma questão de rotina, o temporário prolonga-se, o exterior infiltra-se no interior e, com o decorrer do tempo, a máscara torna-se face


(Marguerite Yourcenar in "As Memórias de Adriano")


Pensamento que me assola: J'est un autre de Rimbaud




O significante da semiótica







Autopsicoagonia - a dor de ser "quase"


.Quero dormir. Sonhar. E ser sonho. Simplesmente. Ser. Eu. .Absoluta.



.Quase.

Um pouco mais de sol eu era brasa.
Um pouco mais de azul
- eu era além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...


Assombro ou paz? Em vão...
Tudo esvaído

Num baixo mar enganador d'espuma;

E o grande sonho despertado em bruma,
O grande sonho
ó dor! quase vivido...

Quase o amor, quase o triunfo e a chama,
Quase o princípio e o fim
- quase a expansão...
Mas na minh'alma tudo se derrama...
Entanto nada foi só ilusão!

De tudo houve um começo... e tudo errou...
Ai a dor de ser-quase, dor sem fim...
Eu falhei-me entre os mais, falhei em mim,
Asa que se elançou mas não voou...

Momentos de alma que desbaratei...
Templos aonde nunca pus um altar...
Rios que perdi sem os levar ao mar...
Ânsias que foram mas que não fixei...

Se me vagueio, encontro só indícios...
Ogivas para o sol
vejo-as cerradas;
E mãos de herói, sem fé, acobardadas,
Puseram grades sobre os precipícios...

Num ímpeto difuso de quebranto,
Tudo encetei e nada possuí...
Hoje, de mim, só resta o desencanto
Das coisas que beijei mas não vivi...

...........................................
...........................................

Um pouco mais de sol - e
fora brasa,
Um pouco mais de azul
- e fora além.
Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...


De
Mário de Sá-Carneiro. Paris, 13 de Maio de 1913




Écoutez-moi Amélie, je veux avoir ton sourire. Il est parfait!Je veux être jolie, grande et amie comme vous. Donnez-moi une leçon. Je veux appendre...
MÚSICA QUE OUÇO: One (
is the loneliest number that you'll ever do...)de Aimee Mann

Castelo de areia



.5x2. Cenas do quotidiano numa vida a dois.



uma relação não é uma unidade. são duas equações distintas.
Penoso é acreditar em contos de fadas.



MÚSICA QUE OUÇO - Sparring Partner de Paolo Conte - a música do silêncio reprimido

FILME QUE REVEJO - 5x2. Cinq fois deux de François Ozom - sensibilidade plástica

POEMA QUE ME OCORRE -
Adeus: vamos para a frente,/ Recuando de olhos acesos/ Nossos filhos tão felizes.../ Fiéis herdeiros do medo... de Carlos Drummond de Andrade, In A Rosa do Povo (excerto)



Por água abaixo


Assim foi o meu fim-de-semana.
Literalmente.



Um inusitado "calvário" em pleno tempo pascal. Trocar um belíssimo programa de fim-de-semana, há muito planeado, pela companhia da casa-de-banho não foi o cenário que se esperava...


MÚSICA QUE OUÇO- Perfect Day - Lou Reed
CITAÇÃO QUE ME LEMBRO -
Everybody makes their own fun. If you don't make it yourself, it isn't fun. It's entertainment.”in STATE AND MAIN (2000), de David Mamet

sexta-feira, 6 de abril de 2007

Farmakon.Eureka!



Parler d'amour c'est faire l'amour*

- Honoré de Balzac -

* Balzac... Balzac... nós perdoamos-te esta...


enviado pelo anónimo querido chamado pedro:




«Amor é propriedade. Sexo é posse. Amor é a lei; sexo é invasão.

O amor é uma construção do desejo. Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele. Ninguém se masturba por amor. Ninguém sofre com tesão. Amor e sexo, são como a palavra farmakon em
grego: remédio ou veneno - depende da quantidade ingerida.

O sexo vem antes. O amor vem depois. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente. No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento. No sexo, o pensamento atrapalha.

O amor sonha com uma grande redenção. O sexo sonha com proibições; não há fantasias permitidas. O amor é o desejo de atingir a plenitude. Sexo é a vontade de se satisfazer com a finitude. O amor vive da impossibilidade - nunca é totalmente satisfatório. O sexo pode ser, dependendo da posição adotada. O amor pode atrapalhar o sexo. Já o contrário não acontece. Existe amor com sexo, claro, mas nunca gozam juntos.

O amor é mais narcisista, mesmo entrega, na 'doação'. Sexo é mais democrático, mesmo vivendo do egoísmo. Amor é um texto. Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do 'outro'. O sexo, mesmo solitário, precisa de uma 'mãozinha'. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até na maior solidão e na saudade. Sexo, não - é mais realista. Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. O amor vem de dentro, o sexo vem de fora. O amor vem de nós. O sexo vem dos outros. 'O sexo é uma selva de epilépticos' (N. Rodrigues). O amor inventou a alma, a moral. O sexo inventou a moral também, mas do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.

O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões. O sexo é mais quieto, como um caubói - quando acaba a valentia, ele vem e come. Eles dizem: 'Faça amor, não faça a guerra'. Sexo quer
guerra. O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo. Amor é egoísta; sexo é altruísta. O amor quer superar a morte. No sexo, a morte está ali, nas bocas. O amor fala muito. O sexo grita, geme, ruge, mas
não se explica.

O sexo sempre existiu - das cavernas do paraíso até as 'saunas relax for men'. Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas provençais do século XII e, depois, relançado pelo cinema americano da moral cristã.
Amor é literatura. Sexo é cinema. Amor é prosa; sexo é poesia. Amor é mulher; sexo é homem - o casamento perfeito é do travesti consigo mesmo. O amor domado protege a produção; sexo selvagem é uma ameaça ao bom
funcionamento do mercado. Por isso, a única maneira de controlá-lo é programá-lo, como faz a indústria da sacanagem. O mercado programa nossas fantasias.

Não há 'saunas relax' para o amor, onde o sujeito entre e se apaixone. No entanto, em todo bordel, finge-se um 'amorzinho' para iniciar. O amor virou um estímulo para o sexo.

O problema do amor é que dura muito, já o sexo dura pouco. Amor busca uma certa 'grandeza'. O sexo é mais embaixo. O perigo do sexo é que você pode se apaixonar. O perigo do amor é virar amizade. Com camisinha, há
'sexo seguro', mas não há camisinha para o amor.

O amor sonha com a pureza. Sexo precisa do pecado. Amor é a lei. Sexo é a transgressão. Amor é o sonho dos solteiros. Sexo, o sonho dos casados.

Amor precisa do medo, do desassossego. Sexo precisa da novidade, da surpresa. O grande amor só se sente na perda. O grande sexo sente-se na tomada de poder. Amor é de direita. Sexo, de esquerda - ou não, dependendo do momento político. Atualmente, sexo é de direita. Nos anos 60, era o contrário. Sexo era revolucionário e o amor era careta.»


Cronicando sobre as coisas da vida

Tu embalas as estrelas




.OFEREÇO-TE ESTE POEMA PERFUMADO.

Ele é só teu.
Procurei algo de especial que preenchesse os teus cinco sentidos

(Não apenas os olhos e os ouvidos)

Consegui?

Espero que gostes
Minha querida amiga
Pois...

.TRABALHEI
TODA A NOITE COMO UMA FORMIGA*.


*Tenho sempre tanta coisa para te contar... mas escusado será dizer que
neste post estou a exagerar.




Ne me quittes pas...




.ESCUTA.


Passaste por mim e
Não me dirigiste a palavra

.FIQUEI CHATEADA.

Fingiste que não me viste e
Fugiste

.TENS RAZÃO.

Foste um menino bem mandado
Educado

.DESTE OUVIDO AO QUE TE FOI PEDIDO.

Mas depois de tanto tempo,
Será que ainda não compreendeste
Que o que digo
Não é o que sinto ?!

. QUANDO ME ABORREÇO MINTO.

Pois fica sabendo, que o meu silêncio
É o meu desejo mordido...


Ne me quittes pas por Jacques Brel

quinta-feira, 5 de abril de 2007

"Silencio" . The end of a dream.



O mal que destruirá a esperança ainda reside no fundo da caixa de Pandora.

a realidade. o real. a ficção. o ficcionado. a luz. a sombra. o claro. o escuro. o reflexo. a reflexão.


Mulholland drive
- Club Silencio. David Lynch

Ópera do Malandro



.O MEU AMOR.

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz


O meu Amor de Chico Buarque para a peça da Ópera do Malandro - 1977/1978

La chute d' Icare


Secret heart, what are you made of ? What are you so afraid of ? Could it be three simple words, or the fear of being overheard...What's wrong?
Let her in on your secret heart.
Secret heart,
why so mysterious? Why so sacred, why so serious?
Maybe you're just acting tough ... maybe you're just not bad enough ...
What's wrong?

Secret Heart - Feist. La Chute d'Icare - Henri Matisse.

Desejo


.ELA.

Deixou de gostar de eufemismos
Cansou-se de platonismos
Esgotou os seus lirismos

.ABSOLUTAMENTE.

Recusa agora qualquer sentimento abstracto.
Quer o teu corpo, a tua pele, o teu palato e olfacto

.SINCERAMENTE...

Tu sabes onde ela mora!
Percebeste agora?

.TEM TACTO!


Fotografia de David Hamilton .L' abandon impudique - 1978.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

La Conquête du courage



Debaixo da língua
Acima da razão
Outro-me aqui...


Fotografia de Man Ray . La Conquête du courage .